quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Oxalufon.



   O orixá Oxalufon também denominado Olúfón (“senhor de Ifon”) ou Obálufón (“rei e senhor de Ifon”), é irunmolé originário da cidade de Ifon, localizada entre as cidades de Ejigbo e Oxogbo, ao norte de Ilobu, na Nigéria, onde ainda hoje é reverenciado.

   De movimentos lentos e idade imemorial, encabeça o grupo dos orixás do branco e foi o primeiro orixá criado, de acordo com os mitos iorubas, pelo pr primordial do início dos tempos, Obatalá e Odudua. É o representante maior das divindades funfun no aiê! Oxalufon é orixá que “desce” nas cabeças dos seus iniciados, diferente de Obatalá, que é uma força intangível e com um poder tão grande que seria perigoso ao orí do ser humano!

   Senhor do mundo físico, Oxalufon tem a possibilidade de interagir e administrar diretamente os homens, pois foi seu criador e também o responsável por tudo que existe no Universo, dos animais aos minerais. Seu pai, Obatalá/Orixalá, entretanto, permanece distante e responde pela parte etérea e divina de toda a criação de Olorum. Pela sua relação com  a criação, Oxalufon liga-se com a água, elemento primordial, mas é como representante do elemento ar que ele se apresenta ao homem. Associado ao distanciamento, à solidão, à reclusão, vive nas grandes altitudes, como Obatalá, de quem também herdou variadas características.

   Sob sua regência estão os princípios mais antigos da existência humana, como a agricultura, e os que remontam ao princípio da existência, como a ancestralidade, a vida e a morte, a quem está intimamente ligado. Como patrono dos princípios da retidão moral, das tradições e da religião, permite a perpetuação e a evolução religiosa através dos ensinamentos das liturgias, dos dogmas e da hierarquia. Ajuda nas mudanças necessárias, evitando a extinção da religião ou de alguns de seus comportamentos, perenizando vários ritos que não podem ser esquecidos. Modificados e reestruturados, sim; perdidos ou anulados, nunca!

   Observando e fazendo seu julgamento, administra o comportamento dos homens na religião e em sua vida física e material, determinando o que cada pessoa merece receber. Mas deixa que a liberdade de escolha, o livre arbítrio, exista e seja sempre supervisionado pelo orí ou pelo orixá de cada um. Propiciador, é quem permite aos orixás o poder de se comunicar (ké) e de fazer suas determinações.

   Artistas, escultores, artesãos, costureiros, pintores, marceneiros, a criatividade do ser humano e também a beleza produzida pelas mãos dos homens são favorecidas e protegidas por Oxalufon. As suas principais insígnias, o opaxorô e o alá, também exigem criatividade, requinte e esmero. O opaxorô é seu cetro real e um apoio para o seu caminhar. o alá é o pano branco que simboliza a parte divina, que encobre e protege a parte física, escondendo o poder de Oxalufon e a sua realeza no plano material. Este pano sagrado é a representação do firmamento (o orum) cobrindo a Terra (o aiê)! Utilizar a cor branca lhe transmite um sentido de paz, de renovação, de claridade, mas seu uso por certas divindades nem sempre é indicativo de equilibro e de calmaria. O alá esconde personalidades inquietantes, beligerantes, mas que se utilizam da cor branca para produzir harmonia e pacificidade. Existem elementos desta cor que confirmam esta explicação, como o sal, a cachaça, o adim e o vinho branco, utilizados por muitas divindades mais que aguerridas e quentes. Branco e frio também é o seu alimento principal, a canjica (ebô), assim como o sangue de seu animal preferencial o igbim, molusco terrestre muito vagaroso. Uma espécie de plasma incolor, este sangue é denominado de “água da calmaria” (omí eró), possuindo a capacidade de trazer revigoramento e também de apaziguar e abrandar este orixá.

   O icodidé, pena vermelha de um papagaio africano, ícone da iniciação e símbolo no nascimento do iaô, é o único adereço de cor utilizado por Oxalufon. Representação de Oxum, ele usa o icodidé em honra e respeito às mulheres e ao poder gestacional. Este orixá tem um elo bastante denso com a capacidade criadora das mulheres, sendo ele próprio um criador. Após ter dado vida ao ser humano, deu vida também as árvores, pra que ambos se complementassem. Para cada ser criado foi criada uma árvore, para que forneça um ar limpo, proteção, moradia, alimentos, calor, mobiliários. O homem só tem que cuidar para que ela, como símbolo vivo da natureza, se perpetue, mesmo após a sua morte! Representantes do reino vegetal, elas são primordiais para a humanidade, mas não foram destinadas somente aos homens! As árvores mais antigas, sagradas, servem de abrido e de residência aos iwins, espíritos descendentes e divinizados do senhor do branco, e trazem em cada galho e folha o simbolismo da ancestralidade. A sua ligação com a floresta integra Oxalufon também com os Oxôs, feiticeiros e guerreiros perigosos.

   Este orixá recebeu de Olorum a incumbência de criar um duplo (enikejí), com bases espirituais, de cada ser criado que reside no orum. Este duplo é o receptáculo das forças divinas que participam das liturgias feitas no aiê em nosso corpo físico. Presidindo uma destas liturgias, o Borí, Oxalufon participa na condição de Babá orí, “pai das cabeças”, formando par com Iemanjá, Iyá orí, “mãe das cabeças”, sendo conhecidos como os senhores da cabeça física. Representam, então, Obatalá e Odudua, que respondem pela cabeça espiritual e divina.

   Oxalufon é orixá muito melindroso, que exige cuidados em seus preceitos, pois o menor deslize pode desagradá-lo e provocar grandes perturbações. Suas festas são bem diferenciadas das festas dos outros orixás e de uma casa de candomblé, porque não tem bebidas alcoólicas, comidas muito condimentadas, petiscos, brincadeiras e multidão.


  Nestes dias, somente as comidas brancas são preparadas para o seu orô (orò) e entregues no inicio da madrugada, horário frio e de maior silêncio. É um momento solene, de grande beleza, que demonstra grande respeito ao orixá maior e que traz harmonia e paz! Quando o dia clareia, é feita uma refeição comunitária, criando uma união e um congraçamento, representando o amor e o respeito das pessoas entre si e com as divindades. É comum que muitas pessoas iniciadas na religião se abstenham de participar deste cerimonial, talvez porque ele não tenha o tumulto comum das grandes festas. Mas a essência maior, independentemente da diversão é agradecer e se colocar sob a proteção da força e do poder deste orixá.

   Em algumas casas é feita anualmente uma grande festa para este orixá, conhecida como “águas de Oxalá”, considerada como uma das maiores da religião, com rituais belíssimos e complexos, de grande representatividade. Esta festa tem o sentido da limpeza e purificação geral da casa de candomblé. Seu simbolismo é o de rememorar a fartura das colheitas, na África, por nossos ancestrais, que geralmente aconteciam no tempo correspondente à Primavera (de setembro a dezembro, no Brasil). É uma festa que possui vários rituais, como o de recolher água em fontes limpas, agraciar os ancestrais, sacrifícios rituais e outros. Tudo para agradar e agradecer a Oxalá por tudo que ele nos dá!

   Na nação bantu, o inquice Lembaranganga é também o senhor do branco, da paz e da criação, com variadas diferenciações em seus rituais e em suas oferendas.

   Este grande Pai, nosso orientador, transmite os homens as suas principais características: o mor fraterno e a paciência, representando também a delicadeza, a bondade, a tolerância e a calma. É o pêndulo do equilíbrio, sem jamais esquecer que um pai não somente dá amor, ele precisa se fazer respeitar, entender seus filhos e ser entendido. Cabe a nós, seus filhos, procurar seguir o que ele nos ensina e transmitir tudo isto às novas gerações. Elas precisam ser bem encaminhas, para que saibam também encaminhar outras no futuro, perpetuando os ensinamentos dos orixás e da religião!

   Como criador e pai, Oxalufon quer somente o melhor para o ser humano, por isso usa de seus poderes para prover o mundo daquilo que considera primordial para se viver bem: a paz, o amor e a união!  

 Generalidades do orixá:

Como são chamados seus filhos: Oxalassi.

Dia da semana: Sexta-feira.

Elementos: Ar e água.

Símbolo: Opaxorô.

Metais: Prata, Chumbo, Estanho e Latão.

Cor: Branca.

Folhas: Lírio, Manjericão, Macaçá.

Saudação: Xeueu, Babá! Babá dimula, igbim!

Seus filhos:

   Os filhos de Oxalufon são pessoas de porte digno, aspecto respeitável, sóbrios no comportamento, muito calmos e reservados, até um pouco introspectivos. Delicados, sensíveis, de educação primorosa, sabem lidar com pessoas de qualquer idade e qualquer posição social ou hierarquia, sem melindrá-las ou enaltecê-las. Possuem uma tranquilidade inabalável e poucos são aqueles que conseguem irritá-los. Mas são obstinados e possuem opinião forte, não costumando desistir de seus projetos, mesmo conhecendo seus possíveis erros e reconhecendo mais tarde os resultados negativos do seu procedimento.

   Aceitam bem os percalços da vida, sabem sobrepujá-los e até extrair ensinamentos, visualizando novos horizontes e tentando modificar o rumo de seu destino através deles. Tal como o pai, que é rei, mas que não precisa de muito para ser feliz, seus filhos costumam levar uma vida pacata e sem grandes luxos, mas rica em sentimentos e objetivos.

   Lentos, harmoniosos e pacíficos, não gostam de barulho, confusão, de locais movimentados. Preferem a segurança e a tranquilidade, ambientes claros e calmos, muito limpos. Sua saúde é muito delicada, qualquer excesso lhes é prejudicial, contudo, a parte emocional e o autocontrole são seus suportes, pois dominam bem suas emoções. Não perdoam facilmente aqueles que os magoam e ofendem, mas também não são violentos ou agressivos com estes, preferem simplesmente ignorá-los! Apesar de serem generosos e paternais, costumam ser muito inflexíveis com alguns atos de seus semelhantes, e agem com muita austeridade e um certo carrancismo, tendo em certos casos uma opinião arcaica e ultrapassada.

   Observadores, tem uma boa memória, tanto visual quanto auditiva, portanto, nada lhes passa despercebido. Necessitam estar sempre aprendendo, porém maior do que isso é o desejo de ensinar o que sabem!

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